terça-feira, 21 de junho de 2011

Última noite

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Por: Camila Heloíse

Dormi com ela, a coisa ruim, e pesava tanto que foi difícil deitar do lado direito, meu preferido. E pesava tanto que eu tive pesadelos. Dormi com a coisa toda enrolada no pescoço, presa na língua, puxando água dos meus olhos. Foi mal. Não queria dizer mais nada. Não foi por preguiça, nem por pirraça. Mas por aceitar que as coisas não mudam onde não precisam mudar. E achei tanta graça nesta minha mania de insistir nas pessoas. Cuspi fora a coisa. E então sosseguei os ouvidos, as mãos e o coração. E me chegou uma alegria nova, coisa tão bonita e boa de sentir. Talvez porque eu sempre estou disposta e pronta pra receber boas novas. Aqui dentro já correm tantas histórias sem fim, não há mais espaço para dor.Mas o que chegou foi de alegria. Com aqueles olhos cor de terra e a boca vermelha. Minha alegria tem corpo. Formas intrigantes. Queixo que pede beijo. Mãos infinitamente habilidosas e asas que nem anjos possuem. Passei a dar formas para alegrias quando vi que a dor também possuía corpos, e precisava de algo tão grande ou maior do que ela pra competir e ser uma briga justa. Hoje, quem venceu por nocaute foi esta felicidade que me prendeu no vão entre o real e o sonho, e me devolveu a saliva. Foi a última noite da coisa ruim presa a mim, hoje quero respirar baixinho naquele colo, escutar o coração batendo, e encontrar nas redondezas daquele corpo as respostas que eu ainda não conheço.

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